sábado, 5 de novembro de 2016

46 - O VINHO NOS TEMPOS DO NOVO TESTAMENTO (2)


Jo 2.11: Assim deu Jesus início aos seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.”.
            Conjuntamente com este estudo, o leitor deve ler: O VINHO NOS TEMPOS DO NOVO TESTAMENTO (1).           
O VINHO: MISTURADO OU INTEGRAL?
                Os dados históricos sobre o preparo e uso do vinho pelos judeus e por outras nações no mundo bíblico mostram que o vinho era: frequentemente não fermentado; e em geral misturado com água. O primeiro estudo de O VINHO NOS TEMPOS DO NOVO TESTAMENTO, aborda um dos processos usados para manter o suco de uva fresco em estado doce e sem fermentação. O presente estudo mostra dois outros processos de preparação da uva para posteriormente ser misturada com água.
            Um dos métodos era desidratar as uvas, borrifa-las com azeite para mantê-las úmidas e guardá-las em jarras de cerâmica (Enciclopédia Bíblica Ilustrada de Zondervan, v. 882; ver também Columella, Sobre a Agricultura 12.44.1-8). Em qualquer ocasião, podia-se fazer uma bebida muito doce de uvas assim conservadas. Punha-se-lhes água e deixava-as de molho ou na fervura. Políbio afirmou que as mulheres podiam beber desse tipo de refresco de uva, mas que eram proibidas de beber vinho fermentado (ver, Políbio, Fragmentos, 6.4; conforme Plínio, História Natural, 14.11.81).
            Outro método era ferver o suco de uva fresco até se tornar em pasta ou xarope grosso (mel de uvas); este processo deixava-o em condições de ser armazenado, ficando isento de qualquer propriedade inebriante por causa da alta concentração de açúcar, e conservada a sua doçura (Columella, Sobre a Agricultura; Plínio, História Natural). Essa pasta ficava armazenada em jarras grandes ou odres. Podia ser usada como geleia para passa no pão, ou dissolvida em água para voltar ao estado de suco de uva (Enciclopédia Bíblica Ilustrada, v. 3050). Referências ao mel na Bíblia frequentemente indicam o mel de uva (chamado debash pelos judeus) em vez do mel de abelha.
            A água, portanto, pode ser adicionada a uvas desidratadas, ao xarope de uvas e no vinho fermentado. Autores gregos e romanos citavam várias proporções de misturas adotadas. Homero (Odisseia, IX 202ss.) menciona uma proporção de vinte partes de água para uma parte de vinho. Plutarco (Symposíacas, III. Ix) declara:  “Chamamos vinho diluído, embora o maior componente seja a água”. Plínio (História Natural, XIV 6.54) menciona uma proporção de oito partes de água para um de vinho.
            Entre os judeus dos tempos bíblicos, os costumes sociais e religiosos não permitiam o uso de vinho puro, fermentado ou não. O Talmude (uma obra judaica que trata das tradições do judaísmo entre 200 a. C. e 200 d.C.) fala, em vários trechos, da mistura de água com vinho (ex: Shabbath 77ª; Pesahim 1086). Certos rabinos insistiam que se o vinho fermentado não fosse misturado com três partes de água, não podia ser abençoado e contaminaria quem o bebesse. Outros rabinos exigiam 10 partes de água no vinho fermentado para poder ser consumido.
            Um texto interessante temos no livro de Apocalipse, quando um anjo, falando do “vinho da ira de Deus”, declara que ele será “não misturado”, isto é, totalmente puro (Ap 14.10). Foi assim expresso porque os leitores da época entendiam que as bebidas derivadas de uvas eram misturadas com água (Jo 2.3). Neste texto de João 2.3 a palavra vinho do grego oinos é um termo genérico e pode se referir ao vinho fermentado, ou não. O sentido de oinos deve se determinado pelo contexto e pela probabilidade moral. Em contrastes, alguns acreditam que, tanto o vinho fornecido neste casamento como o vinho feito por Jesus, eram embriagantes se consumidos em grande quantidade. Se aceitamos esta tese, as implicações disto, dados a seguir, devem ser reconhecidas e também aceitas: Primeiro, os convidados do casamento provavelmente estariam bêbados; Segundo, Maria mãe de Jesus, estaria lastimando a falta de bebida embriagante e estaria pedindo que Jesus fornecesse aos convidados, já embriagados, mais vinho fermentado; Terceiro Jesus estaria produzindo, a fim de atender à vontade de sua mãe, de 600 a 900 litros de vinho embriagantes mais do que suficiente para manter todos os convidados, totalmente bêbados; Quarto Jesus estaria produzindo esse vinho embriagante como seu primeiríssimo “milagre” a fim de manifestar “a sua glória” e de levar as pessoas a crerem nele como Filho justo e santo de Deus. Não é impossível evitar as implicações supras da tese em questão. Alegar que Jesus produziu e usou vinho alcoólico, não somente ultrapassa os limites das normas exegéticas, como também nos leva a um conflito com os princípios embutidos no contexto geral do ensino da Escritura. Fica claro que, à luz da natureza de Deus, da justiça de Cristo, da sua amorável solicitude pela humanidade, do bom caráter de Maria, as implicações da posição de que o vinho de Caná estava fermentado é blasfêmia. Não se pode adotar uma interpretação que envolva tais afirmações e contradições. A única explicação plausível e crível é que o vinho produzido por Jesus, a fim de manifestar a sua glória, era o suco puro e não embriagante da uva. Além disso, o “vinho inferior”, inicialmente fornecido pela pessoa encarregada das bodas, também com toda probabilidade não era embriagante.
            Em resumo, o tipo de vinho usado pelos judeus nos dias da Bíblia não era idêntico ao de hoje. Tratava-se de suco de uva recém-espremido; suco de uva assim conservado; suco obtido de uvas tipo passas; vinho de uva feito do seu xarope, misturado com água; e, vinho velho, fermentado ou não, diluído com água, numa proporção de até 20 por 1. Se o vinho fermentado fosse servido não diluído, isso era considerado indelicadeza, contaminação e não podia ser abençoado pelos rabinos. À luz desses fatos, é ilícito a prática corrente de ingestão de bebidas alcoólicas com base no uso do “vinho” pelos judeus dos tempos bíblicos. Além disso os cristãos dos dias bíblicos eram mais cautelosos do que os judeus quanto ao uso do vinho (Rm 14.21; 1Ts 5.6; 1Tm 3.3; Tt 2.2).
           
A GLÓRIA DE JESUS MANIFESTA ATRAVÉS DO VINHO
            Em João 2, vemos que Jesus transformou água em “vinho” nas bodas de Caná. Que tipo de vinho era esse? Conforme já vimos, podia ser fermentado ou não, concentrado ou diluído. A resposta deve ser determinada pelos fatos contextuais e pela probabilidade moral. A minha posição é que Jesus fez vinho (oinos) suco de uva integral e sem fermentação. Os dados que se segue apresentam fortes razões pra a rejeição da opinião que Jesus fez vinho embriagante.
1)      O objetivo primordial desse milagre foi manifestar a sua glória, Jo 2.11, de modo a despertar fé e a confiança em Jesus como o Filho de Deus, santo e justo, que veio salvar o seu povo do pecado. Sugerir que Cristo manifestou a sua divindade como o Filho Unigênito do Pai (Jo 1.14), mediante a criação milagrosa de inúmeros litros de vinho embriagante para uma festa de bebedeiras, Jo 2.10, onde a expressão “bebido bem” provém da palavra grega methusko, que tem dois significados; estar ou ficar bêbado, e estar farto e satisfeito (sem referência à embriaguez). Aqui devemos entender methusko como o segundo destes dois significados. Seja como for traduzido este texto, ele não pode ser usado em defesa da tese que nessa festa de casamento foi bebido vinho fermentado. Neste texto, o mestre-sala simplesmente cita um princípio geral, próprio de qualquer festa de casamento, sem considerar o tipo de bebida que foi então servido. Não devemos, de modo algum, dar a entender que Jesus participou de uma festa de bebedeiras, nem que contribuiu para isso, e que tal milagre era extremamente importante para sua missão messiânica, requer um grau de desrespeito, e poucos se atreveriam a tanto. Será, porém, um testemunho da honra de Deus, e da honra e glória de Cristo, crer que Ele criou sobrenaturalmente o mesmo suco de uvas que Deus produz anualmente através da ordem natural criada. Portanto, esse milagre destaca a soberania de Deus no mundo natural, tornando-se um símbolo de Cristo para transformar espiritualmente pecadores em filhos de Deus. Devido a esse milagre, vemos a glória de Cristo “como a glória do Unigênito do Pai” (Jo 1.14).
2)      Contraria a revelação bíblica quanto à perfeita obediência de Cristo a seu Pai celestial (Jo 4.34; Fp 2.8,9) supor que Ele desobedeceu ao mandamento moral do Pai: “Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho... e se escoa suavemente” isto é, quando fermentado (Pv 23.31). Cristo por certo sancionou os textos bíblicos que condenam o vinho embriagante como escarnecedor e alvoroçador (Pv 20.1), bem como as palavras de Habacuque 2.15: “Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro!... e o embebedas”.
3)      Note, ainda, o seguinte testemunho da medicina moderna. Os maiores médicos especialistas atuais em defeitos congênitos citam evidências comprovadas de que o consumo moderado do álcool danifica o sistema reprodutivo das mulheres jovens, provocando abortos e nascimento de bebês com defeitos mentais e físicos incuráveis. Autoridades mundialmente conhecidas em embriologia precoce afirmam que as mulheres que bebem até quantidades moderadas de álcool, próximo ao tempo da concepção (48 horas), podem lesar os cromossomos de um óvulo em fase de liberação, e daí causar sérios distúrbios no desenvolvimento mental e físico do nenê. Seria teologicamente um absurdo afirmar que Jesus haja servido bebidas alcoólicas, contribuindo para seu uso. Afirmar que Ele não sabia dos terríveis efeitos em potencial que as bebidas inebriantes têm sobre os nascituros é questionar sua divindade, sabedoria e discernimento entre o bem e o mal. Afirmar que Ele sabia dos danos em potencial e dos resultados de formadores do álcool, e que mesmo assim, promoveu e fomentou seu uso, é lançar dúvidas sobre sua bondade, compaixão e amor.
A única conclusão racional, bíblica e teológica acertada é que o vinho que Cristo fez nas bodas, a fim de manifestar a sua glória, foi o suco puro e doce de uva, e não fermentado.
     

Amém!

Erivelton de Jesus

Um comentário:

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